Eurípedes e os amendoins

Por Daniela Origuela e Tatyane Brito

A pele escura, dourada pelo sol, mostrava que seu escritório era na praia. Chapéu de palha na cabeça, sacola a tiracolo e alguns saquinhos de amendoim nas mãos, o ambulante tentaria fazer a sua última venda do dia. O sol já estava indo embora, e a tarde prazerosa na praia dava sinais de que terminaria com uma boa história, daquelas em que o personagem principal é só mais um na multidão.

Simpático e muito sorridente, o homem de 57 anos se aproximou de nossa mesa. Pediu licença para iniciar a prosa, e deu largada as palavras que nos convenceria a pagar cinco reais em dois pequenos sacos de amendoim torrado – talvez um dos melhores que já comemos por aí.

Tudo começou quando há 12 anos, Eurípedes  resolveu trocar a vida estressante e corrida da capital, por um apartamento modesto em Mongaguá. Aposentado, o técnico em processamentos químicos mudou-se com a filha mais nova e a esposa para a cidade. Não imaginava que, ao assistir uma reportagem durante a madrugada sobre japoneses que degustavam amendoins torrados com alho, acompanhado de um bom saquê (bebida tradicional japonesa feita a base de arroz), ele mudaria radicalmente seu dia a dia.

O salário de aposentado não era lá essas coisas. Precisava complementar a renda e também voltar a ativa – para quem passou muito tempo da vida trabalhando a ociosidade muitas vezes incomoda. Foi aí que o gosto dos japoneses tornou-se o principal negócio de Eurípedes.

Amendoim no alho. Vocês já comeram? Se ainda não, precisam provar os de dona Jussara, a esposa do aposentado. Ela é a responsável por  dar sabor ao produto que, segundo ele, é feito com muito carinho e sob o mais rigoroso cuidado com higiene e conservação.

Tipicamente caracterizado como um vendedor ambulante pôs seu produto à venda do boca a boca, fazendo então a novidade das praias da cidade. Conseguiu licença (paga com o dinheirinho das vendas) e saiu à luta para fazer o que ele considera mais difícil: cativar a clientela.

Encontra uma, duas, três pessoas que nem ao menos olham em seu rosto, mas isso não o desanima. Para compensar os “foras”, um casal de jovens empolgados e simpáticos que compram quase dez saquinhos e um grupo de turistas que o chama para uma rodada de cerveja. Pronto. Fez o dia.

A rotina de Eurípedes começa com a escolha dos lados da praia para percorrer. Direito ou esquerdo. A partir daí, traça a linha e vai embora. Dois trajetos (ida e volta) pelas praias de Mongaguá são suficientes para vender os cerca de oitenta pacotinhos de amendoins.

Nesse vai e vem, entre um cliente e outro,  Eurípedes vai levando a vida. Ao término do dia, quando o sol se despede lá no morro, o aposentado finaliza o expediente: tênis atolado na areia, sacola vazia e o chapéu de palha na mão para não voar.